sexta-feira, fevereiro 06, 2009

“ Diz-nos o bom senso que as coisas da terra pouca existência têm, e que a verdadeira realidade está apenas nos sonhos. Para digerir a felicidade natural, assim como a artificial, é preciso primeiro ter a coragem de a engolir, e os que talvez merecessem a felicidade são justamente aqueles a quem a aventura, tal como a concebem os mortais, sempre fez o efeito de um vomitório.
A espíritos néscios parecerá singular, e mesmo impertinente, que um quadro das volúpias artificias seja dedicado a uma mulher, a mais comum fonte das mais naturais volúpias. Todavia, é evidente que tal como o mundo natural penetra no espiritual, lhe serve de alimento, e concorre assim para operar esse amálgama indefinível a que chamamos a nossa individualidade, a mulher é o ser que projecta a maior sombra e a maior luz nos nossos sonhos. A mulher é fatalmente sugestiva; vive de uma outra vida além da sua própria: vive nas imaginações que frequenta e fecunda”.
(C. Baudelaire, Os paraísos artificiais, trad. José Saramago, Editorial Estampa, Lisboa, 1971, p.9)

1 comentário:

  1. miga

    passagem linda desse livro...

    espero que estejas a gostar!

    bendito génio

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