Continuarei a tentar perceber do que se fala quando se fala de ética (e, por muito tempo) …
Partindo do princípio que a palavra “ética” deveria surgir como primeiro motivo de reflexão..E. Lévinas deu-nos a pensar a ética hiper-criticamente, assim... podemos sair das ideologias éticas/normativas em vista a pensar a relação ética como relação ao outro (infinitamente estranho, secreto, separado). Contudo, deve sempre ter-se presente o limite do pensamento levinasiano devido ao facto de ser uma ética que se ocupa do humano enquanto humano!
Só para vos situar penso (aqui) numa divisão muito sucinta entre ética autonómica, em que Heidegger reinterpreta o “ethos”, deixando de significar “costumes”, para significar o modo do homem habitar no mundo; e, ética heteroautonómica a qual nos leva a pensar a subjectividade do próprio sujeito, o caminho de uma vida interior, o separado (kaddosh). Mediante disto, Lévinas deu-nos a pensar a ética num outro sentido, no sentido de “santidade” reflectida no rosto de outrem, um rosto que apela já à sua vulnerabilidade. Assim, já diante dum rosto que é o rosto do outro, secreto, separado está desde logo o apelo à obrigação incondicional. É precisamente esta obrigação incondicional diante do outro que me parece permitir pensar a singularidade que, por sua vez, deve entender-se na sua ambiguidade. Por um lado, a singularidade deverá ditar todas as “leis nómicas”, por outro, a mesma “singularidade” permite ajuizar a justeza às leis (éticas), permitindo assim, pensar a própria excepção. É, neste sentido, que E. Lévinas nos dá a pensar a interpretação judaica da ética, permitindo-lhe repensar a tradição ético – filosófica, traduzindo a sinonímia entre “Santidade” e “Ética”. É precisamente esta sinonímia que vem salientar o reconhecimento da alteridade como primazia, manifestando assim, a experiência dissimétrica entre o “eu” e o “outro” em que ambos estão no mesmo plano, embora seja necessário saber que “outro” significa desde logo a obrigação da responsabilidade. Nesta orientação, diante de um repensar da eticidade da ética poderemos aproximar-nos de uma “noção” de ética, proferindo que é a atenção ou o reconhecimento da “Lei das Leis”. Todavia, este reconhecimento significa alcançar que a “lei do outro” não tem nenhum fundamento absoluto e, por isso, não dirá respeito a nenhuma ética normativa (no seu sentido de ethos). É, neste contexto, que nos poderemos situar diante uma ética da inquietude, abrindo espaço à incondicionalidade do “eu” ao “outro”. Esta incondicionalidade (que depois com J. Derrida se traduz em hospitalidade incondicional) poderá sentir-se (leia-se De L’Utilité Des Insomnies) enquanto insónia, se se entender por insónia o despertar meta-ético. Ou seja, no fundo ter insónias seria estar profundamente desperto na medida em que a vigília ocorre diante do outro. À pergunta de Bertrand Révillon: “Est-ce important d’avoir des insomnies? », Lévinas respondeu : « L’éveil est, je crois, le propre de l’homme. Recherche par l’éveillé d’un dégrisement nouveau, plus profond, philosophique. C’est précisément la rencontre de l’autre homme qui nous appelle au réveil, mais aussi des textes qui sont issus des entrenties entre Socrate et ses interlocuteures». Ora, se é precisamente o encontro do outro homem que nos chama a acordar, o encontro do outro é também o grande acontecimento, a visitação, o grande « trauma ». Este é, de facto (na minha orientação), o pano de fundo para estabelecer uma crítica às éticas normativas, na medida em que o encontro do outro não se reduz a nenhum saber suplementar. Pelo contrário, o encontro do outro convida a minha responsabilidade à sua situação de excepção, trazendo uma linguagem que surge na resposta ao apelo do outro ou, doutro modo, uma linguagem que é um apelo ao outro e ao mesmo tempo a chave da modalidade da “desconfiança” (se-méfier-de-soi).Daqui se entende que a proximidade é também uma distância absoluta… muito mais há a dizer...
Só para vos situar penso (aqui) numa divisão muito sucinta entre ética autonómica, em que Heidegger reinterpreta o “ethos”, deixando de significar “costumes”, para significar o modo do homem habitar no mundo; e, ética heteroautonómica a qual nos leva a pensar a subjectividade do próprio sujeito, o caminho de uma vida interior, o separado (kaddosh). Mediante disto, Lévinas deu-nos a pensar a ética num outro sentido, no sentido de “santidade” reflectida no rosto de outrem, um rosto que apela já à sua vulnerabilidade. Assim, já diante dum rosto que é o rosto do outro, secreto, separado está desde logo o apelo à obrigação incondicional. É precisamente esta obrigação incondicional diante do outro que me parece permitir pensar a singularidade que, por sua vez, deve entender-se na sua ambiguidade. Por um lado, a singularidade deverá ditar todas as “leis nómicas”, por outro, a mesma “singularidade” permite ajuizar a justeza às leis (éticas), permitindo assim, pensar a própria excepção. É, neste sentido, que E. Lévinas nos dá a pensar a interpretação judaica da ética, permitindo-lhe repensar a tradição ético – filosófica, traduzindo a sinonímia entre “Santidade” e “Ética”. É precisamente esta sinonímia que vem salientar o reconhecimento da alteridade como primazia, manifestando assim, a experiência dissimétrica entre o “eu” e o “outro” em que ambos estão no mesmo plano, embora seja necessário saber que “outro” significa desde logo a obrigação da responsabilidade. Nesta orientação, diante de um repensar da eticidade da ética poderemos aproximar-nos de uma “noção” de ética, proferindo que é a atenção ou o reconhecimento da “Lei das Leis”. Todavia, este reconhecimento significa alcançar que a “lei do outro” não tem nenhum fundamento absoluto e, por isso, não dirá respeito a nenhuma ética normativa (no seu sentido de ethos). É, neste contexto, que nos poderemos situar diante uma ética da inquietude, abrindo espaço à incondicionalidade do “eu” ao “outro”. Esta incondicionalidade (que depois com J. Derrida se traduz em hospitalidade incondicional) poderá sentir-se (leia-se De L’Utilité Des Insomnies) enquanto insónia, se se entender por insónia o despertar meta-ético. Ou seja, no fundo ter insónias seria estar profundamente desperto na medida em que a vigília ocorre diante do outro. À pergunta de Bertrand Révillon: “Est-ce important d’avoir des insomnies? », Lévinas respondeu : « L’éveil est, je crois, le propre de l’homme. Recherche par l’éveillé d’un dégrisement nouveau, plus profond, philosophique. C’est précisément la rencontre de l’autre homme qui nous appelle au réveil, mais aussi des textes qui sont issus des entrenties entre Socrate et ses interlocuteures». Ora, se é precisamente o encontro do outro homem que nos chama a acordar, o encontro do outro é também o grande acontecimento, a visitação, o grande « trauma ». Este é, de facto (na minha orientação), o pano de fundo para estabelecer uma crítica às éticas normativas, na medida em que o encontro do outro não se reduz a nenhum saber suplementar. Pelo contrário, o encontro do outro convida a minha responsabilidade à sua situação de excepção, trazendo uma linguagem que surge na resposta ao apelo do outro ou, doutro modo, uma linguagem que é um apelo ao outro e ao mesmo tempo a chave da modalidade da “desconfiança” (se-méfier-de-soi).Daqui se entende que a proximidade é também uma distância absoluta… muito mais há a dizer...
linda já sabes que nunca estudei filosofia, mas acho cada vez mais interessante estas especulações! hoje tive a investigar algumas coisas de lévinas e descobri que ele era judeu!
ResponderEliminaracho que de certo modo ele entende as questões de ética por muita influência da sua religião, do judaísmo, daí que ele encare a entrega incondicional ao outro, como a máxima no que respeita ás questões éticas